Meu amigo Fábio Fernandes (que agora bloga neste blogue aqui) é um cara cheio de surpresas. Depois de publicar algumas (fantásticas) histórias curtas fantásticas no Overmundo (lá nos doces idos de 2007) e traduzir boa parte da fina flor artificial da ficção científica estrangeira publicada no Brasil, meu amigo Fábio Fernandes (que é também um de meus ídolos, mas não conta pra ele não!) agora vai traduzir Hellblazer e Y: the Last Man para o português. Engraçado que, se você me perguntasse a uns meses atrás qual seria a pessoa mais adequada no Brasil para traduzir estes títulos, eu responderia sem titubear: o ciborgue carioca de São Paulo: Fábio Fernandes. E não deu outra!
E já que estamos falando do Fábio, segue abaixo um trecho de “Para nunca mais ter medo” — uma de suas melhores histórias curtas de ficção científica, publicada originalmente na revista Dragão Brasil número 11, em 1995, e tida por algum como “o primeiro conto de ficção científica brasileiro a explorar o subgênero de Ficção Alternativa”.
Marta era muito bonita viva. Mas conseguia estar ainda mais linda depois de ressuscitada.
Eu estava terminando um café no foyer do Centro Cultural Banco do Brasil quando ela chegou. Os olhos pretos, elétricos, me procuravam feito loucos no meio da multidão que não parava de chegar. Ela hesitava. Pensei em ajudá-la, mas me lembrei do que os médicos costumam recomendar nesses casos: não trate o ressuscitado como um doente. Depois da alta, ele está tão bem quanto qualquer pessoa em sua primeira vida, talvez até mais. Esperei.
E então ela me encontrou. A boca se abriu num sorriso, e seus dentes perfeitos me trouxeram de novo a sensação de normalidade, de que tudo realmente era como antes.
Sorri aliviado.
Não resisti à tentação. Assim que ela se aproximou de mim, tomei-a pelas mãos e cantei baixinho, só para ela ouvir:
– Talvez, quem sabe, um dia, pela alameda do zoológico ela também chegará…
– O século trinta vencerá… – ela emendou.
– Ela e tão linda que por certo eles a ressuscitarão – terminei em seu ouvido. E nos
abraçamos.
Ela chorou. E eu também. Ressuscitar nunca é fácil. (…)
Como diz o próprio Fábio, “Escrever dói”. A gente bem sabe disso. E é por isso que não pode deixar passar em branco um uso tão bom desta dor. Parabéns pelo sucesso, cara! Beberemos a isso um dia!