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Posts Tagged ‘A Tir Feu’

Os Deuses são os maiores mentirosos de todos. Mas foi mais ou menos assim que ele me contou essa história, na sala vazia daquela casa em Copacabana, no dia 23 de abril.

Ou será que fui eu mesmo que a contei assim? Se for, que Dánloth me perdoe. O Ressonhar está mexendo com todos nós…

“DánLoth observava de longe o casarão que repousava sobre o rochedo negro. Muito além da visão dos olhos, ele sabia dentro de si, como quem passa a língua em um dente que perdeu a firmeza, que naquele momento a casa rachava por dentro e estava condenada. Saberia o que estava por vir? Talvez não soubesse, embora soubesse bem o que vinha fazer ali, e imaginasse o que poderia vir depois. Era, afinal, o Senhor da Imaginação até que decidisse o contrário. E o faria, muito em breve.

Saltou do rochedo do qual observava a casa e pousou, leve como um gato, sobre o telhado que cobria a grande sacada que fitava o Mar do Adormecimento. Em outro momento teria sorrido enquanto fazia aquilo. Fazia tempo, embora fosse ele um ser além do tempo das Ilhas, que não saltava ou voava. Mergulhou em direção ao mar, rente à borda do telhado, e estendeu rapidamente os braços para segurar-se na viga que sustentava o telhado. Com um movimento rápido, impossível talvez para outros moradores das Ilhas, girou o corpo enquanto segurava-se na viga e reverteu sua queda em um salto para trás, e para dentro da sacada. Não ficou surpreso por encontrar Sboranágh fitando-o quando aterrisou. Ele sabia que havia feito barulho suficiente para alertá-la. E sabia também que ela não se impressionava mais com seus feitos.

(mais…)

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O fragmento número três se perdeu. Dele me lembro apenas três pequenas passagens, que reproduzo abaixo.

“[…]A estrada dos tijolos cinzentos, que cruza as terras mortais de Fínne, é talvez a única estrada nas ilhas que sempre nos leva aos mesmos lugares. Isso faz dela uma estrada estranha para quem mora na região.

[…]

Ela vinha miúda pela estrada. Seus cabelos muito vermelhos contrastando com o verde das urzes e com o cinzento profundo de seu manto. Naquela primeira vez que a encontrei, ela rumava para o Bosque dos Príncipes. Queria se encontrar com a Velha Coruja. Dizia que era parte de sua iniciação como mulher-que-sabe-das-coisas. Não sabia na época que havia entre os pequeninos mulheres-que-sabem-das-coisas, ou mesmo aspirantes a este caminho. Partilhamos à beira de uma fogueira um pão de estrada e um resto de frutas cristalizadas que ela trazia envoltas em um pano azul dentro de seu alforje, que era grande demais para ela. Se recusou a comer carne de caça, e achei melhor não fazê-lo também. Foi a primeira vez que a ví, mas foram nossos outros encontros que a tornaram inesquecível. Espero que ela esteja bem agora, onde quer que esteja.

[…]

Era um homem muito triste. Trazia uma grande trouxa de bagagem nas costas e me parou educadamente pedindo direções. Parecia ignorar que a estrada de tijolos cinzentos o leva sempre aos mesmos lugares, pois me perguntou se naquele dia era possível chegar a Setestrelas se tomando o desvio à direita. […] Quando perguntei por quê estava deixando a capital, ele me disse gravemente que só se deve deixar um lugar quando os motivos para se querer ir embora não forem mais compensados pelos motivos para se querer ficar. Insistí, e ele simplesmente me disse que não morava mais lá, e calou. Eu também silenciei quando me perguntou de onde eu vinha. De certa forma, me parecia que por mais que andasse estava sempre em um lugar muito familiar, e não fazia mais para mim sentido algum dizer que um dia vim de algum lugar.”

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Há uma longa história a ser contada. Mas hoje eu já sei como contá-la.

Vou contá-la da mesma forma que eles a contam para mim…
Em fragmentos, pequenas jóias de caleidoscópio, vislumbres, recordações e devaneios.

A longa história estará organizada com os seguintes tags:

Queda do Oeste, para reunir todos os fragmentos em um só fluxo de lembranças, lendas e revelações.
Arranárra, Lothienárra e Delianárra definindo as três linhas narrativas que contam a longa história que talvez comece antes do Leste e do Oeste.

E A História talvez comece assim…

“Houve um começo, mas cada vez que ele foi narrado sua verdade se diluiu na alma daquele que o narrou. Eu poderia contar como começou, como alguns já fizeram, mas estaria falando de mim mesmo, mais do que daquilo que você quer saber. Houve um começo, mas vou me limitar a contar aquilo que me lembro e aquilo que vivi. É tudo que posso e que quero fazer. E a minha história começa como um nascimento, com dor e um pouco de desorientação, em um quarto escuro…”

~ extraído do Delianárra.

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