Os Deuses são os maiores mentirosos de todos. Mas foi mais ou menos assim que ele me contou essa história, na sala vazia daquela casa em Copacabana, no dia 23 de abril.
Ou será que fui eu mesmo que a contei assim? Se for, que Dánloth me perdoe. O Ressonhar está mexendo com todos nós…
“DánLoth observava de longe o casarão que repousava sobre o rochedo negro. Muito além da visão dos olhos, ele sabia dentro de si, como quem passa a língua em um dente que perdeu a firmeza, que naquele momento a casa rachava por dentro e estava condenada. Saberia o que estava por vir? Talvez não soubesse, embora soubesse bem o que vinha fazer ali, e imaginasse o que poderia vir depois. Era, afinal, o Senhor da Imaginação até que decidisse o contrário. E o faria, muito em breve.
Saltou do rochedo do qual observava a casa e pousou, leve como um gato, sobre o telhado que cobria a grande sacada que fitava o Mar do Adormecimento. Em outro momento teria sorrido enquanto fazia aquilo. Fazia tempo, embora fosse ele um ser além do tempo das Ilhas, que não saltava ou voava. Mergulhou em direção ao mar, rente à borda do telhado, e estendeu rapidamente os braços para segurar-se na viga que sustentava o telhado. Com um movimento rápido, impossível talvez para outros moradores das Ilhas, girou o corpo enquanto segurava-se na viga e reverteu sua queda em um salto para trás, e para dentro da sacada. Não ficou surpreso por encontrar Sboranágh fitando-o quando aterrisou. Ele sabia que havia feito barulho suficiente para alertá-la. E sabia também que ela não se impressionava mais com seus feitos.